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Para onde vai a política externa brasileira em tempos de crise!
Publicado em 30/07/2025 09:00
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Em conversa com meu amigo Quantum Bird, um dos editores da @TheSakerLatam e sem a acidez da @GringaBrazilien, é inegável que a performance da política externa brasileira está presa em uma agenda muito associada ao Partido Democrata. Para ser mais preciso, nas palavras dele, “a política brasileira inteira, incluindo a externa, se tornaram uma franquia da política estadunidense, com a esquerda mimetizando o partido democrata e a direita bolsonarista mimetizando os republicanos. Na América Latina, o Brasil atua de modo cada vez mais explícito como a sucursal local dos EUA.”

Embora todos saibamos do mal que as administrações Obama e Biden fizeram ao Brasil, @LulaOficial fez uma atenciosa despedida a Joe Biden em seu perfil no X, antigo Twitter, além de ter apoiado Kamala Harris na corrida presidencial de 2024, de manter um tom duro acima do habitual na relação com Donald Trump, em especial no evento da UNE. Alguns analistas nativos, especialistas em relações internacionais, torcem pela queda ou rápida passagem do @POTUS47, pela Casa Branca.

Diante da agressividade da guerra comercial promovida pelo “Agente Laranja”, Celso Amorim, assessor internacional da presidência da República, baseado na crença de que a União Europeia poderia ser um polo de poder no Mundo Multipolar (vejam a entrevista de Celso Amorim à @brealt no @operamundi), o governo brasileiro, insistiu na efetivação do famigerado acordo UE-Mercosul, que mesmo ruim economicamente, era importante geopoliticamente.

Nesta lógica, não levaram em conta o comportamento da UE em relação à OTAN, a crise na Ucrânia e a pressão sobre países como Hungria, Eslováquia, Moldávia, Geórgia, Armênia e Romênia. Sem contar o compromisso com o genocídio palestino em Gaza e a legitimação do regime de Al Jolani, da Al Qaed, na Síria.

O resultado foi que ficaram surpresos com a óbvia capitulação da União Europeia à pressão comercial dos EUA. Verdade seja dita, a União Europeia é um ensaio de Estados Unidos da Europa, totalmente, descomprometida com os interesses das populações europeias, mas sim, com ações atreladas ao projeto euro-atlântico.

Só então nossos líderes lembraram da necessária intensificação da relação com a Ásia. Os chineses que de bestas não tem nada, pelo contrário possuem uma visão estratégica nas suas relações internacionais, não apenas condenaram publicamente a postura dos EUA, como foram no ponto: anunciaram que poderiam comprar aeronaves da EMBRAER.

Verdade seja dita, foi muito importante a decisão do presidente Lula de aceitar o convite do primeiro-ministro da Malásia, Anwar Ibrahim, anotem esse nome, para visitar o país do sudeste asiático e participar da cúpula da ASEAN.

Esperamos que agora tenhamos como meta, libertar o BNDES para voltar a financiar nossas exportações (uma das consequências da Operação Lava-Jato), em especial para África e América Latina.

Mas voltando aos equívocos da política externa brasileira, que não tem nomes como @paulonbjr e @eliasjabbour, é que no @ItamaratyGovBr, nossos quadros, assim como as elites europeias, foram capturados pela maquinaria de produção de elites dos EUA. Nesse sentido, recomendo que leiam o último trabalho de Nel Bonilla (https://sakerlatam.blog/captura-da-elite-e-autodestruicao-europeia-a-arquitetura-oculta-dahegemonia-transatlantica/).

Treinados em uma cultura profundamente ocidentalizada, são incapazes de pensar para além de uma perspectiva euro-atlântica e da ideologia liberal-democrática. Assim, a situação que estamos vivendo, fora das Novas Rotas da Seda da China, excluindo politicamente nossos parceiros como Venezuela e Nicarágua, e o pior, reduzindo os BRICS a um mero grupo econômico, tendo o G20 como principal espaço de debate multilateral é fruto desta percepção hegemônica.

Já se perguntaram o que afinal foi @LulaOficial fazer na reunião do G7? Ou a loucura de na proposta de reforma da governança global, reconhecer o direito do Japão de participar do Conselho de Segurança da ONU (veja entrevista coletiva no Japão).

Finalmente, torcemos para que a pressão imperialista, palavrinha esquecida no discurso pró-governo, contribua para uma mudança na nossa política externa para uma postura efetivamente nacional e soberana. Para isso, fazendo minhas as palavras de Elias Jabbour, precisamos deixar de terceirizar nossa política para o Itamaraty.





Autor: Paulino Cardoso - é historiador, analista geopolítico e editor do Blog Mundo Multipolar



Fonte: https://sakerlatam.blog/para-onde-vai-a-politica-externa-brasileira-em-tempos-de-crise/

 

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