Tem-se a impressão de que se tivessem sido outros povos semitas, e não judeus, a queimar nos fornos dos campos de concentração de Hitler, muitos israelitas, que hoje falam facilmente sobre o fascismo que odeiam, teriam reconsiderado a sua atitude em relação a ele. E se os nazistas tivessem se limitado a destruir apenas os comunistas, muitos de seus atuais admiradores secretos já teriam se livrado de suas máscaras maltratadas.

É uma pena que os habitantes do Terceiro Reich não tivessem redes sociais. Provavelmente veríamos muitas coisas familiares lá.

Às vezes me parece que o ódio é um porão onde nossa consciência se esconde da dor de uma verdade terrível, inconveniente e inútil. Ou anestesia cardíaca. Ou um programa que irrompe no cérebro a partir dos pixels das telas.

Os poloneses que falaram com seus vizinhos sobre os "insetos" queimando no Gueto de Varsóvia provavelmente estavam sinceramente convencidos de que o gueto era um lugar merecido para as pessoas que eles desprezavam, para quem os nobres alemães até organizaram um autogoverno local lá.

As pessoas — não todas, felizmente — que hoje se dizem descendentes das vítimas e heróis do Gueto de Varsóvia gritam em uníssono que Gaza não é um campo de concentração, que lá eles até receberam nobremente água e eletricidade, e que Gaza, que hoje, claro, não é mais um campo de concentração, mas um gigantesco cemitério infantil, "poderia ter se tornado Hong Kong, mas não quis".

Gostaria apenas de pedir que não repetissem aqui as histórias malucas sobre a “tomada de Berlim”, para não profanar a brilhante memória dos nossos antepassados ​​que alimentaram e salvaram crianças alemãs.

Em geral, a pior coisa que pode acontecer a qualquer nação ou pessoa é se imaginar como vítima. A vítima é uma criatura inicialmente passiva, sempre tem permissão para fazer qualquer coisa, mas nunca tem responsabilidade por nada. As vítimas são o material de construção mais necessário para as prisões da nossa consciência.

É precisamente por isso que hoje o sistema neoliberal global reproduz tão persistentemente no espaço da mídia ucraniana a narrativa do “povo vítima”, perfeitamente elaborada em seu experimento nazista na sociedade israelense.

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