Tirando a roupa que vestem, as recordações, e algumas moedas no mealheiro, a maioria dos portugueses pouco mais podem dizer o que é seu.
Entre esse pouco conta-se a Caixa Geral de Depósitos, a escola pública e o SNS. Tudo o resto foi adquirido pelos de fora, ou faz parte desse modelo de gato escondido com o rabo e fora, que são as parcerias público-privadas, como vai acontecer com a TAP, por exemplo.
Saciar o apetite e a ganância de quem quer comprar para dessa maneira poder estender o seu domínio às decisões tomadas nas cimeiras anuais de Davos foi a contrapartida que o Estado português teve de aceitar para fazer parte da elite europeia, representada na figura da UE.
Por enquanto, mas talvez por pouco tempo se nada for feito, uma daquelas execpções tem resistido ao vendaval provocado pela flatulência das barrigas dos comensais daquela cidade Suiça. No afã de vender toda a prata da casa, a direita, no caso, o actual governo, está envolvido num esforço para entregar os restantes 45% do orçamento do SNS a quem os quiser comprar.
Para isso, na ilusão de que só um sairia reduzido a cinzas dessa contenda, reconduziu a actual ministra da Saúde, qual cordeiro de Deus, para ser sacrificada no altar do bezerro de ouro. Talvez com o que não contassem fosse a resistência que tal empreendimento iria enfrentar. Sejam quais forem os planos e os caminhos escolhidos para atingir aquele objectivo, encontram sempre pelo caminho obstáculos à sua concretização, não se importando, contudo, de arredar dos seus lugares todos que lhes pareçam incómodos, na ilusão de tornarem mais fácil a caminhada.
Cometem um grave erro, porque irão ter sempre pela frente as pessoas. Tendo-lhes tirado quase tudo, não querem ficar sem o último reduto das suas vidas, o serviço público de saúde. É que ao seu valor de uso, já está enraizado na consciência das pessoas o seu valor afectivo: ele foi o responsável, em qualquer momento das suas vidas, por terem sido salvas pessoas que lhe são queridas. É com essa percepção retirada da experiência que o governo não está a contar, e que a manter a orientação lhe irá custar caro.
Cipriano Justo – Médico – In facebook
* Título dado pelo site “Notícias Independentes”